A Irmã de EROS (Lolita de Ray-Ban)

Dedico para as mulheres de esquina.

RESPIRA como se não habitasse o universo, sorri com certo abuso, indiferente aos ébrios de esquina. Rainha, mulher, santa, vadia. Uma erupção momentânea, cravada na cabeça rósea de todos os alfas, a atingir os ômegas, atingindo o prepúcio e o fim. Apocalipse 1:8 foi feito para ela. Deusa da ruína, segura de si, uma confusão abraçada em todas as formas e cheiros, imponente a todos que a cercam.

 

Descobri, enquanto observava os seus óculos Ray-ban antigos, que ela é a filha do Caos, irmã de Eros. Ela unifica os sexos em nome do seu corpo, explora os sentidos de qualquer coisa viva que a observa. Os seios pontudos, bicos enormes, a filha do nada e de tudo, habita o banco de trás do carro, ao meu lado. Seguimos pela Conselheiro Aguiar, iluminados pelas luzes da noite do Recife. Meu colega dirige, afirma que eu devo ir logo, ouso olhá-la, cabeça levantada, o sorriso que esnoba o cosmo, joelhos fechados, exibindo os pelos abundantes do seu sexo angular.

 

Ela olha para mim, o Ray-ban a me encarar, enquanto torno-me rígido.

 

“Vai. Ela custa caro.” O motorista diz.

 

A cavalgada estremece o meu pensamento, ela arranca o Ray-ban, cabelo preto e longo escorre em sua face, os olhos castanhos me atingem como vermes no intestino grosso, eles entram em meus neurônios e ascendem em minha glande. A irmã do caos, a dama que estremeceu a base divina, transfigurando o amor como uma alquimista, exibe um sorriso incógnito, criado por Loki, desenhado por Sade e finalizado por Anais Nin.

 

A perfeição fica por conta de Michelangelo.

 

Ela pede para colocar uma música, o ato do afogar o ganso é um reprocho, deve ser feito com som ambiente (não existem camisinhas, afinal, o ato de procriação foi extinto) o cd é introduzido, The Strokes toca Last Nite, a caída abre as pernas, exibe aquilo que destruiu Deuses, desconfigurou o nosso cotidiano e mudou os sentimentos do ser humano. Pelos escuros, uma mata rasgada, assim como a voz do Casablancas, gutural ao nível sexual, abrindo aos poucos, enquanto o solo é enfiado goela a baixo. Meu pensamento segue as Glândulas de Bartholin, secretando o muco lubrificante, enquanto meu sexo e o dela copulam em uníssono. Ela exibe a língua, um pequeno piercing, desço para os seios novamente, minha mão os fechava de tão pequenos eram, entretanto, tão firmes!

Orifício genital, canal vaginal, eu viajo sem freio, suando a bicas, ao som do Nine Inch Nails, eu a viro, o rabo branco ilumina a face do meu universo, o tecido epitelial exibe-se, enfio até o útero, as bolas entram com tudo, enquanto ergo a cintura dela. A música diz “You let me violate you, you let me desecrate you, you let me penetrate you, you let me complicate you…”

 

Ela geme. Som e carro paralisam. Desgaste temporal. A hora fica doente. Os compromissos deixam de existir. Cronos tomba. A boca dela aberta, os dentes brancos e simétricos sendo exibidos em câmera-lenta. Os segundos são faíscas, persigo o som da voz do amor, em meus ouvidos, a ninfa cantarola feitiços, enquanto jorro o suplício.

 

O suor torna-se um.

 

O hímen é o meu brinde, o planeta está de ponta cabeça. O Ray-ban retorna a seu rosto cândido. Eros concretizou o seu plano, construiu a irmã que habita no sonho de Deuses e homens, assumiu o seu posto de tirano. O motorista entrega o cd e pagamento a ela, enquanto os seus lábios encostam-se aos meus. A porta se abre, seu corpo desnudo é substituído pelo vestido florido e um tênis all star, o fone de ouvido em seu lugar, a mão a acenar adeus, a saudade amargando em meu peito. Até a próxima vez, eu digo, mesmo sabendo que ela não há de ocorrer. A Deusa nunca repete o seu alvo. Ela desaparece em meio a multidão que ela comanda e encanta.

 

A Deusa perfeita, a fortuna de toda uma vida que se esvai. A Puta feliz e rica.

O tempo ainda paralisado, eu espreito o seu último rebolado, desejando que este breve momento fique em minha mente para todo o sempre. Até o fim da minha vida na humanidade.

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